Orixás na Quaresma: Saiba por que as camuflagens surgiram e como hoje vivemos a espiritualidade sem segredos.
Orixás na Quaresma: História e Contexto
Olá, meus filhos e filhas de santo! Hoje quero compartilhar com vocês uma pergunta que tenho recebido muitas vezes nas redes sociais e por e-mail: por que, historicamente, se fala que os Orixás se afastam ou entram em um período de “recuo” durante a Quaresma? Venho aqui contar um pouco dessa história e mostrar como essas regras surgiram e explicar por que, em nossa Casa, nós não as seguimos mais.
Orixás na Quaresma: A Camuflagem de Nossos Ancestrais
Desde os tempos de escravidão, nossos ancestrais africanos foram forçados a se camuflar para praticar suas religiões. Eles tiveram que adotar símbolos e rituais do catolicismo para evitar perseguições e represálias. Foi assim que a Quaresma – esse período de 40 dias, originalmente destinado à penitência e à preparação para a Páscoa – acabou sendo incorporado por alguns terreiros de Umbanda e Candomblé como uma espécie de “recesso” ou até mesmo um tempo de guerra espiritual.
Antigamente, os terreiros fechavam as suas portas ou suspendiam certas atividades durante a Quaresma. Esse afastamento tinha um sentido duplo: por um lado, era uma medida de proteção para os filhos de santo, evitando que ficassem expostos às energias densas que se acumulavam após os excessos do Carnaval; por outro, servia para “camuflar” a prática de nossas religiões, escondendo-as dos olhos inquisidores da sociedade e das autoridades. Em muitas casas, essa tradição se desenvolveu simbolicamente, com rituais que indicavam que os Orixás “iam para a guerra” no plano astral para combater as energias negativas geradas pelos excessos humanos, retornando só depois com renovado vigor e luz.
Orixás na Quaresma: A Liberdade de Hoje
Contudo, meus queridos, é fundamental dizer que essa prática nasceu de um contexto de opressão e medo. Hoje, vivemos em um tempo em que a liberdade de crença é garantida e onde não precisamos mais nos ocultar para praticar nossa religião. Na minha Casa de Santo, optamos por manter nossas portas abertas e trabalhar com os Orixás de forma contínua, sem a pausa ritualística que antes servia de “camuflagem.”
Recebo muitas mensagens perguntando se seguimos ou não esses preceitos. Minha resposta é sempre a mesma: cada terreiro tem sua história e seu modo único de trabalhar com o axé. Eu, pessoalmente, acredito que a energia dos nossos Orixás está conosco todos os dias do ano. A Quaresma, assim como outros períodos de introspecção e renovação, pode ser vivida de forma aberta e consciente, sem que precisemos suspender nossos rituais ou manter um recesso.
Reflexões sobre Orixás na Quaresma e Nosso Caminho Espiritual
Hoje, nossa prática é pautada na transparência e na liberdade. Acolhemos nossas tradições, mas também as adaptamos à realidade atual. Acredito que não precisamos mais seguir aquelas regras impostas pelo medo e pela opressão de outrora. O verdadeiro trabalho espiritual acontece na nossa constante busca pelo equilíbrio, na oração diária e no cultivo do amor e do respeito que temos pelos nossos ancestrais e guias.
Portanto, meus filhos e filhas, quando ouvirem falar do “afastamento” dos Orixás na Quaresma, lembrem-se: essa é uma herança histórica de um tempo difícil, uma estratégia de sobrevivência que não se aplica mais à nossa realidade. Aqui, celebramos a presença dos Orixás o ano inteiro, mantendo nossa conexão viva e intensa, sem precisar de “camuflagens” para defender nossa fé.
Que essa explicação traga mais clareza e fortaleça nossa caminhada espiritual. Agradeço a cada um que tem se interessado e enviado suas dúvidas – que possamos, juntos, seguir sempre em luz e evolução!
Axé e muita luz a todos!
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