Quase todas as religiões, desde as mais antigas até as mais atuais, têm seus preceitos e resguardos, necessários às práticas religiosas, das mais básicas às mais complexas. Na Umbanda, não é diferente. Todos os filhos e também o líder da casa, Pai ou Mãe de Santo, devem cumprir os preceitos para a incorporação, preparação de trabalhos, oferendas no terreiro, etc..
A palavra “Preceito” (originária do latim praeceptum) é concebida como um comando ou proibição de realizar uma determinada ação. Dentro das religiões, é uma regra, um comando a ser seguido, como exigência para participar de determinadas práticas religiosas.
Na Umbanda, não é diferente. Todo umbandista do mais velhos ao mais novos, sabe dos preceitos básicos para participar dos trabalhos da casa e é talvez uma das poucas coisas que são igualmente presentes em todos templos de Umbanda, diferenciando apenas um ou outro preceito mais específico de templo a templo e o tempo de exigência de preceito de cada casa.
Embora seja algo de conhecimento comum, tem ocorrido de muitos negligenciarem os preceitos fundamentais, ou seja, de fundamento.
Vivemos um período de muita comunicação, de farta informação, estudos e acessos, no entanto, o ônus disso é, muitas vezes, a confusão, a dispersão ou mesmo a negação daquilo que é tradicional e fundamental na Umbanda, em detrimento de um “novo” comportamento.
O QUE SÃO OS PRECEITOS?
Preceitos são orientações importantes para nortear e conectar o fiel numa dinâmica mais profunda com sua espiritualidade. Muitas vezes pode parecer até purgativo e quanto mais difícil parecer um preceito, mais eficácia reflexiva ele oferece ao fiel. Pois, a proibição daquilo que lhe é rotineiro em função de algo maior, faz-lhe refletir sobre a diferença entre o Sagrado e o Profano, sobre sua capacidade de dedicação e comprometimento, sobre a sua disponibilidade em ser mais eficiente e mesmo sobre a real importância da religião na sua vida. Já vi muitos casos de pessoas se reformarem ao observar com dedicação os preceitos.
Numa ótica litúrgica, preceitos têm, portanto, o objetivo que potencializar a ligação do fiel com seu Sagrado. No entanto, como na Umbanda existem questões mais complexas, consideramos o plano das energias e todos e tudo como energias. Então, os preceitos contemplam as particularidades que viabilizam maior sutilização e purificação do campo energético e magnético daqueles que participam do trabalho espiritual.
Geralmente os preceitos envolvem abstenção de sexo, de determinadas comidas, como carne e pimenta por exemplo, banhos de ervas para limpeza e purificação, dentre outros. O período de cumprimento dos preceitos variam de acordo com as regras de cada casa.
POR QUE SE DEVE CUMPRIR OS PRECEITOS?
Bem distante de ser apenas uma “besteira”, os preceitos são depurativos da mente, do espírito e do corpo. Os preceitos não são opcionais. Têm um porquê e têm fundamento. Aliás, existem vários fundamentos por trás disso; e, uma vez entendidos, fica mais fácil respeitar e cumprir o preceito sem achar que é um sacrifício ou um exagero. Confira algumas explicações de se fazer os preceitos:
- O motivo fisiológico: após comer uma comida pesada ou condimentada, carnes vermelhas, gordurosas, por exemplo, o corpo fica mais ‘mole’ e não predispõe a um trabalho tão intenso quanto uma gira de atendimento exige. Uma refeição leve, com carne branca ou sem carne, sempre é mais indicada. As energias precisam vir de algum lugar para serem doadas aos assistidos; ou seja, os médiuns precisam estar carregados de energias diversas, desde a energia mais sutil até a mais densa, para poderem doar e cuidar de seus irmãos e dos consulentes e visitantes. É aí que entra o preceito. O corpo ao comer carne, fazer sexo ou beber consome muita de sua energia vital; a mesma que seria usada pelos guias durante o passe. É como se a gente guardasse essa energia, deixando de gastar durante o preceito para estar pronto para praticar a caridade;
- Mas o preceito tem ainda outro fundamento. A carne vermelha, assim como a bebida, trazem em si energias (assim como todo e qualquer alimento) que são mais capazes de “aterrar”, de trazer o corpo do médium de volta pra Terra. O corpo do médium, então, tem que lidar com uma energia de ordem muito mais densa dentro de si; e isso faz com que se torne mais difícil trabalhar a energia sutil da incorporação mediúnica;
- O sexo, por sua vez, é uma ligação energética muito forte que é feita entre quem o praticou; e o corpo precisa de um tempo para se restabelecer energeticamente depois. Essa mistura de energias vai dificultar a conexão entre o médium e o guia; pois o corpo está ainda se refazendo da ligação energética que teve anteriormente;
O que não se pode esquecer é que, só um corpo e uma mente saudáveis; física e energeticamente, conseguem vibrar a saúde. E, se vai-se doar a energia de cura e saúde aos que dela precisam; deve-se cultivar equilíbrio do corpo e da mente com bons hábitos.
Agora sabendo os porquês dos preceitos, fica mais fácil seguir e manter essas regras; que são um dos grandes pilares no trabalho mediúnico.
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